Portugal com custo de habitação cada vez mais alto

No ano passado, os preços das casas em Portugal continuaram a sua trajetória ascendente, registando um crescimento de 8,2%, o terceiro mais alto da Zona Euro, de acordo com os dados recentemente divulgados pelo Eurostat.

 

Entre os 20 países que compartilham a moeda única, Portugal mantém-se no topo das maiores elevações de preços de habitação. Apenas a Croácia, com um aumento de 11,9%, e a Lituânia, com 9,8%, superaram Portugal nesse aspeto.

Além disso, os dados do Eurostat evidenciam que o mercado imobiliário português continua a desafiar as tendências da Zona Euro, onde os preços das casas desceram em média 1,2%. A média dos preços da habitação na União Europeia também registou uma queda de 0,3% no ano passado.

No entanto, há indícios de desaceleração no mercado nacional. Apesar do aumento de 8,2% em 2023, é necessário retroceder até 2016, quando os preços das casas aumentaram 7,1%, para encontrar uma subida menor do que a observada em 2023.

Nos últimos três anos, os preços em Portugal aumentaram a uma média anual de 10,05%, cerca de 2,2 vezes mais do que a média da Zona Euro.

Analisando a última década, os preços das casas em Portugal aumentaram a uma média de 8,26% ao ano, mais do que o dobro da média da Zona Euro, que foi de 3,8% ao ano. Na Zona Euro, apenas a Estónia (9,15%) e a Lituânia (8,98%) tiveram aumentos maiores que Portugal.

Em relação aos países da da União Europeia, em 2023, a maior queda nos preços da habitação ocorreu no Luxemburgo, passando de um aumento de 9,6% em 2022 para uma queda de 9,1% em 2023. A Alemanha também registrou uma queda significativa, com uma diminuição de 8,4% no ano passado, após um aumento de 5,2% em 2022.

Globalmente, na União Europeia, entre 2010 e o quarto trimestre de 2023, os preços das casas aumentaram 48%, enquanto as rendas aumentaram 23%.

O Eurostat também destaca que as rendas aumentaram em 26 países da UE, com os maiores aumentos ocorrendo na Estónia (+207%), Lituânia (+172%) e Irlanda (+102%). A única exceção foi a Grécia, que registrou uma diminuição nos preços das rendas (-19%).

O aumento das rendas atingiu um pico em 2023, registrando o maior aumento em quatro anos. Este aumento intensificou a taxa de sobrelotação da habitação que desde 2010 não era tão elevada.

Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que, em 2023, o valor medio das rendas de novos contratos de arrendamento de alojamentos familiares atingiu os 7,21 euros por metro quadrado, representando um aumento de 10,58% em relação ao ano anterior. Esta subida é a mais acentuada desde 2019, quando as rendas aumentaram 10,8%.

Este aumento significativo ocorre num contexto em que o governo lançou o pacote legislativo Mais Habitação para combater a crise habitacional. Este pacote incluiu medidas destinadas a aumentar a oferta de habitação e a reduzir os preços, como um novo limite para os aumentos de renda. No entanto, as grandes cidades continuam a liderar a aceleração dos preços de arrendamento, distanciando-se dos valores observados no resto do país.

A procura por habitação em Portugal está a tornar-se uma jornada cada vez mais árdua, à medida que a oferta diminui e os preços dispararam. A combinação de salários modestos, inflação crescente, aumento das rendas e elevação das taxas de juro está a forçar muitas famílias a enfrentar escolhas difíceis.

A crise habitacional atinge de forma especialmente intensa os casais com filhos, resultando num aumento significativo do número de famílias portuguesas a viver em habitações sobrelotadas. De acordo com os dados recentemente divulgados pelo INE, uma em cada cinco famílias está a residir num espaço com menos divisões do que o necessário para abrigar adequadamente todos os membros do agregado familiar.

O estudo revela que 12,9% da população vive em casas sobrelotadas, com destaque para 21% de jovens e 14% de adultos. Esta percentagem representa um aumento de 3,5% em comparação ao ano anterior, alcançando o índice mais elevado desde 2010, quando a taxa de sobrelotação habitacional era de 14,6%.

A grande maioria das famílias viram-se obrigadas a vender as suas próprias casas. Outras, que estavam a arrendar imóveis, foram obrigadas a deixar as suas residências porque os proprietários optaram por não renovar os contratos. Entre os anos de 2022 e 2023, o número de pessoas a viver em habitações sobrelotadas aumentou em 37%, o que equivale a um acréscimo de 370 mil pessoas em relação ao ano anterior.

Embora um quarto da população estrangeira esteja a enfrentar condições de vida mais precárias, não foi entre os imigrantes que a situação se deteriorou nos últimos meses. De acordo com os dados fornecidos pelo INE, foi entre as famílias portuguesas, especialmente aquelas com filhos, que a situação agravou-se significativamente. A taxa de habitações sobrelotadas neste grupo saltou de 9,1% em 2022 para 12,6% em 2023. Já no caso da população estrangeira, a diferença foi mínima: 22,6% em 2022 e 22,7% em 2023.

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